quarta-feira, 3 de março de 2021

Nove artistas que representam a Nova Psicodelia Brasileira

 

Para quem acha que a música psicodélica brasileira começou com Mutantes e acabou com Júpiter Maçã está redondamente enganado. Quem acha que parou nos anos 70 também. O Brasil conta atualmente com uma ótima safra de novos artistas psicodélicos de todas as regiões do país. E o nosso blog vai indicar 9 desses artistas para você se deleitarem com o melhor da nova Psicodelia Brasileira.


Boogarins

Atualmente podemos considerar o Boogarins como a mais “internacional” das bandas dessa safra. Eles já fizerem diversas turnês no exterior bastante elogiadas pela crítica lá fora. Assista Lucifernandis



Glue Trip

O grupo de João Pessoa lançou seu álbum homônimo no ano passado no Brasil, Europa e Japão mostrando a nova psicodelia brasileira pode ir longe. Assista Elbow Pain



Zeca Viana

Além de ter 3 álbuns no currículo Zeca Viana também atua como pesquisador desde 2010 com o projeto Recife Lo-Fi, coletânea virtual que vem reunindo gravações caseiras e criando pontes com músicos locais, nacionais e internacionais. Assista Mauricéia Cogumelo Cósmica



O Vento Solar

O grupo anunciou para o mês de março agora seu aguardado segundo trabalho intitulado Janela para o Universo que vem na sequência do elogiado EP de estreia O Vento Solar. Em novembro o grupo lançou o single Ladeira do Mar, que também fará parte desse novo EP. Assista o clipe dessa canção



Ciganoblues

Quando você mistura psicodelia com música cigana qual o resultado? Isso mesmo, Ciganoblues. Assista Ritual da Lua Cheia e viaje nessas ondas sonoras



Marina Silva

O albúm O caótico jazz tropical de marina Silva foi uma das grandes boas surpresas lançadas no ano passado. Assista Baião de Clavinet, com participação de Jedias Hertz



The Baggios

 Um dos grupos da nova geração da psicodelia brasileira que está em maior evidência tendo participado de grandes festivais pelo país e sendo indicado inclusive ao Grammy Latino. Assista Vermelho-Rubi



Andressa Nunes 

Andressa Nunes é uma cantora e compositora baiana, que morou em Pernambuco e hoje reside em Belo Horizonte. Sua canção Mandacaru Intergaláctico é uma das grandes pérolas dessa geração. Assista



Júlio Ferraz

O multi-instrumentista e compositor Júlio Ferraz que surgiu com a banda Novanguarda em 2006 no momento se dedica a sua carreira solo onde podemos saborear belas canções como Lembranças. Assista




E aí, o que acharam da lista? E se tiverem mais indicações de bandas que poderiam estar na listagem deixem nos coments que aí a gente faz a parte 2 da Nova Psicodelia Brasileira.



quarta-feira, 30 de maio de 2018

10 novos artistas com influências de Clube da Esquina e Rock Rural


O blog Discos Obrigatórios retorna depois de um período de inatividade com novidades. Agora além dos posts sobre os discos obrigatórios teremos matérias relacionadas também a música brasileira no geral. Pra começar vamos listar 10 novos artistas que tem influências de dois movimentos da música brasileira - o Clube da Esquina e o Rock Rural - que se iniciaram nos anos 70 e que continuam influenciando gerações de músicos pelo Brasil 

Para se inteirar desse dois movimentos sugerimos que você ouça os seguintes Discos Obrigatórios:

Clube da Esquina 



- Milton Nascimento - Milton (70), Milagre dos Peixes (73), Minas (75), Geraes (76),
- Clube da Esquina (72) e Clube da Esquina 2 (78)
- Lô Borges - Disco do Tênis (72), A Via Láctea (79)
- Beto Guedes - A Página do Relâmpago Elétrico (77)

Rock Rural




- Sá, Rodrix e Guarabyra - Passado, Presente e Futuro (72), Terra (73)
- Sá e Guarabyra - Pirão de Peixe com Pimenta (77)

Agora vamos aos 10 artistas influenciados por esses movimentos musicais.                                

Tatá Aeroplano e Barbara Eugenia

Essa dupla de músicos paulistanos lançaram um dos grandes álbuns de 2017, o Vida Aventureira onde a influência de rock rural é evidente

                          Será que isso vai durar?

Phillip Long

O músico de Araras ficou conhecido pela sua vasta discografia cantando em inglês mas para a nossa felicidade em 2017 ele lançou um disco inteiro em português, o Manifesto, onde ao melhor estilo Sá, Rodrix e Guarabyra de O pó na estrada ele canta Pra quem já quis fugir pro mato

               Pra quem já quis fugir pro mato

O Vento Solar

A influência de Clube da Esquina já fica evidente no nome do projeto. O nome Vento Solar foi inspirado no verso "...vento solar e estrelas do mar..." da clássica Um Girassol da Cor do Seu cabelo do também clássico álbum Clube da Esquina. Em seu EP de estréia lançado em 2018 O Vento Solar cumpre as expectativas como podemos ver na faixa Vasto Mundo


                                   Vasto Mundo

Dônica

A banda carioca que tem entre seus integrantes Tom Veloso, um dos filhos de Caetano Veloso, assume sua influência de Clube da Esquina inclusive ao ser apadrinhada pelo próprio Milton Nascimento que gravou a faixa Pintor que está no 1° álbum da banda

                                   Bicho Burro

Nô Stopa

A cantora Nô Stopa, filha do cantor Zé Geraldo, traz no DNA o rock rural e a mineirice como podemos ouvir na faixa Canto do povo do Mar de Minas, composição de Kleber Albuquerque, presente no seu último álbum Manifesto Poesia

               Canto do povo do Mar de Minas

Transmissor

Essa banda de rock mineira formada em 2006 em Belo Horizonte (berço do Clube da Esquina) não esconde as influências do movimento como podemos ouvir em Poema da Batalha

                              Poema da batalha

Rossa Nova

É ouvir o som do Rossa Nova e se imaginar no interiorzão do Brasil, rock rural dos bons como podemos ouvir na música O Uirapurú

                               O Uirapurú

Graveola

Mais uma banda de Belo Horizonte que  não esconde a influência do Clube da Esquina. Na música Talismã temos participação de outro mineiro da nova geração "clubista" Samuel Rosa

                                 Talismã

Folk na Kombi

Apesar de formada em São Paulo as influências dessa banda são bem interioranas. Além de Sá, Rodrix e Guarabyra a banda também bebe na fonte de artistas como Almir Sater e Renato Teixeira

                                   Dançar eu vou

Barbara Rodrix

Herdeira de Zé Rodrix, um dos criadores do movimento Rock Rural, Barbara Rodrix lançou em 2017 o álbum Eu mesmo onde se destaca a faixa É, foi você com parceria da cantora Luiza Possi

                                  É, foi você

terça-feira, 5 de março de 2013

Acabou Chorare (Novos Baianos) - Entrevista com Galvão.


 

Depois de gravar o álbum com influências roqueiras É ferro na boneca um grupo do qual faziam parte Moraes Moreira, Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), Pepeu Gomes, Luiz Galvão, Paulinho Boca de cantor, Dadi Carvalho e Jorginho Gomes sai (em plena época de ditadura) de um apartamento no Rio para irem morar todos (junto com parentes e amigos) em um sítio em Jacarepaguá, com a missão de gravar um disco e jogar futebol. Mas agora não seria só rock. Com a influência de João Gilberto que havia lhes apresentado o samba de “verdade” Brasil Pandeiro de Assis Valente e teria dito “vocês precisam voltar pro caminho de casa” agora também apareceria o samba, o choro e o baião. O resultado disso seria lançado em 1972, com o nome de Acabou chorare.

Além da gravação da citada "Brasil pandeiro" o álbum desfila clássico atrás de clássico. "Preta pretinha", "Tinindo trincando", "Swing de Campo Grande", "Acabou chorare", "A menina dança", "Mistério do planeta", "Besta é tu". Em 2007, em uma eleição dos “100 melhores discos brasileiros de todos os tempos” feita por estudiosos, produtores e jornalistas para a revista Rolling Stone Acabou chorare ficou em primeiro lugar. Para falar melhor sobre essa obra-prima entrevistamos Luiz Galvão, compositor responsável por quase todas as letras do álbum.

                                          Luiz Galvão


DO - A mudança de sonoridade do primeiro disco "É ferro na boneca" (mais rock´n roll) para o segundo "Acabou Chorare" (onde estavam presentes o samba, o choro e o baião) é enorme. Em algumas entrevistas e no documentário "Filhos de João, o admirável Mundo Novo Baiano" de Henrique Dantas é apontada a influência de João Gilberto (que chegou a visitar o grupo antes da gravação do 2º álbum) nessa mudança radical. Essa mudança sonora pode ser creditada 100% a João ou vocês já estavam buscando outros caminhos e ele só deu o chute na bola quicada?

Galvão - Novos Baianos. O nome já tem o novo de novo e também de baiano. Mesmo o disco “Ferro na Boneca” sendo roqueiro, tinha o nosso jeito baiano com cara de interior. Eu falei que ele (João Gilberto) precisava conhecer os outros Novos Baianos, e ele respondeu que já conhecia muita gente, e não queria conhecer mais ninguém. Insisti tanto que ele atendeu e mandou que eu o levasse ao apartamento, Baby, Paulinho Boca e Moraes. Lá João Gilberto disse: "Vocês precisam voltar pro caminho de casa", e tocou Brasil Pandeiro e outros sambas antigos.

DO- Como era o processo de composição de vocês? Cada um fazia uma parte e depois juntava tudo? Ou enquanto o Moraes mostrava uma melodia você já criava uma letra, o Pepeu fazia um solo, ia saindo tudo de maneira orgânica?

Galvão - Na maioria das canções eu fazia a letra primeiro. Mas também teve algumas que Moraes fez as músicas e eu coloquei a letra depois. E tiveram outras que a música e a letra foram feitas juntas na mesma hora. Pepeu fazia os arranjos, e depois com o tempo passou a participar da parceria.

DO - A mudança da cidade para um sítio mudou de que maneira o modo de vocês comporem? São famosas as histórias das adaptações como a do técnico de som Paulo César Salomão que utlizou peças da televisão na guitarra de Pepeu criando um timbre único, que pode ser percebido no solo clássico de "Mistério do Planeta". Você acha que se não fosse por esse clima, dos músicos morando, ensaiando e criando juntos teria esse trabalho tão marcante? 

Galvão - É claro que o ambiente agradável do sítio nos fez bem, as árvores ajudaram, os passarinhos cantando cedinho, a vizinhança, a simplicidade do povo, o futebol no campinho. Tinha menos falta que na sala do apartamento. Todo dia tinha ensaio e no final da tarde o baba (jogo) de futebol. Salomão morando junto quebrava qualquer galho do som. A gente tocava até em cima da casa se fosse preciso, e ensaio era show particular.

DO - Uma das principais características dos Novos baianos era de ter três vocalistas (Moraes Moreira, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor) com estilos bem marcantes de cada um. Como era definido qual vocal ia cantar cada música? Isso já era decidido na hora de compor ou não, depois de pronta a música é que isso era decidido?

Galvão - Eu e Moraes estávamos fazendo a direção artística e musical, mas Baby ia ficar calada? Paulinho e Jorginho também davam palpite. Algumas vezes quem ia cantar era decidido antes e em outras depois. 

DO - A regravação de "Brasil pandeiro" de Assis Valente foi um dos maiores sucessos do disco e até hoje é muito tocada. Quando João Gilberto a sugeriu causou um estranhamento ou vocês aceitaram logo de cara regravar essa música?

Galvão - Ele tocou “Brasil Pandeiro” para a gente e nós ficamos encantados de uma forma tal que não podia dar em outra.

DO - O álbum "Acabou Chorare" foi um sucesso de vendas e sucesso também nas rádios onde músicas como "Preta, pretinha", "Acabou chorare" e "Besta é tú" ficaram entre as mais tocadas por meses. Mas parece que não houve muitos shows na época do lançamento. Qual foi o motivo?

Galvão - Nós tínhamos deixado o Marcos Lázaro (ex-empresário), mas ainda tínhamos contrato com ele, o que nos deixou com um pé no freio da ousadia. Mas a ousadia foi mais forte e resolvemos ir à luta. Teve algo interessante que foi termos marcado um jogo com o time profissional do Botafogo do Rio de Janeiro, e o programa da TV Globo “Fantástico” nos convidou. Nós dissemos que só poderíamos ir depois do jogo. A felicidade foi que o diretor (Luis Carlos Miéle) era botafoguense e deu um jeito de gravarmos à noite.

DO - O álbum fez grande sucesso entre o público. E entre os músicos da época, qual foi a repercussão? Havia meio que uma divisão entre a música brasileira tradicional (violão) e a que vinha de fora (guitarra). Como ficou os Novos Baianos (que na sua música continha elementos das duas vertentes) nesse ambiente?

Galvão - Até João Gilberto aprovou. E “Novos Baianos” fazia como queria, o importante era o resultado, ter ficado perfeito.

DO - Em 2007, em uma eleição dos "100 maiores discos da música brasileira" realizada pela revista Rollingstone, "Acabou Chorare" ficou em primeiro lugar. Esse resultado te pegou de surpresa ou você já esperava por esse reconhecimento?

Galvão - Os Novos Baianos se sentiam “o cara” e sabíamos com consciência o que tínhamos feito. Sem dúvidas, mais que todo mundo, que o que fazíamos era ouro.

DO - No youtube você encontra muitos comentários de estrangeiros, encantados pela musicalidade do grupo, principalmente nos vídeos do documentário feito pelo Solano Ribeiro. Como você vê esse interesse de fora pela música dos Novos Baianos? Você chegou a dar muitas entrevistas para veículos do exterior? Quais as principais perguntas desses jornalistas?

Galvão - Demos algumas, o André Matarazzo até quis nos levar para os Estados Unidos. Ele me deu dois bilhetes, um para mim e outro para a intérprete Liliane, mas eu me contrariei com alguma coisa e devolvi os bilhetes e o dinheiro da hospedagem.

DO - Agradecemos muito a entrevista. Para finalizar, o que você indica para quem quiser conhecer melhor a obra dos Novos Baianos (filmes, livros, sites, blogs)?

Galvão - Além dos filmes e livros citados, aguardem o filme documentário contando minha história e os livros que tenho prontos “Novos Baianos por Galvão” que está saindo em maio pela Editora Azuli (Romanceado) e “Umbuzeiro Doce e Azedo” (Romance). O meu blog (www.osnovosbaianos.wordpress.com) é muito visitado. Minha esposa Janete Galvão é que trata dessa parte, eu só cuido da arte. Abraços. Galvão.

                                                   Brasil Pandeiro

                                                               Preta,pretinha

                                                           MIstério do Planeta 

                                                           A Menina dança

                                                          Besta é tú


Disco: Acabou Chorare
Artista: Novos Baianos
Ano: 1972
Destaques: Todas as músicas.
 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Secos & Molhados (1973) - Entrevista com Gerson Conrad

        

 



Presente em dez de cada dez listas de melhores discos da MPB o primeiro disco do Secos & Molhados, lançado em 1973, pode ser considerado um disco obrigatório na música brasileira. O grupo formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad (o baterista Marcelo Frias também aparece na famosa capa do álbum, onde as cabeças dos integrantes são servidas em bandejas, mas na época lançamento do disco já havia se desligado do grupo) revolucionou o cenário musical da época. Com apresentações performáticas de seus integrantes maquiados, com sua mistura de MPB, rock progressivo, baião, psicodelia, música portuguesa, entre outros estilos o grupo bateu recordes de vendas chegando a vender 1 milhão de cópias em uma época onde os discos mais vendidos batiam na casa dos 50 mil, e chegou a fazer shows históricos como o do Maracanãzinho, onde 30 mil pessoas lotaram o ginásio e outras milhares ficaram do lado de fora.

Não faltam clássicos nesse disco. Ele já começa com a sequência de Sangue Latino e O vira, que junto com Rosa de Hiroshima foram as músicas que fizeram mais sucesso. Mas ainda havia Assim Assado, O patrão nosso de cada dia, Amor, Primavera nos dentes, Fala ... definitivamente um disco que você poderia ouvir na íntegra, sem pular nenhuma faixa. Segue abaixo uma entrevista com Gerson Conrad, onde ele conta detalhes sobre esse disco clássico.

 
Gerson Conrad


DO - Como foi o processo de formação dos Secos & Molhados até chegar na
considerada formação “clássica” (Ney Matogrosso, Gerson Conrad, João Ricardo)?
GC - O grupo começou de um sonho de garotos, João e eu. Éramos vizinhos de mesma rua e calçada e logo descobrimos que tínhamos uma profunda identidade e gosto musical. Na verdade nossa primeira incursão enquanto grupo chamou-se "Eric Expedição". Era um trio acustico, dois violões, percussão e vozes. Essa formação teve vida curta. Pouco tempo depois eu estava às voltas com as obrigações de serviço militar e João, então, formou um grupo com um músico chamado Pitoco, que tocava violão e uma viola de dez cordas. Essa formação também durou pouco, pois eu logo voltei a integrar o grupo, e foi aí que conhecemos o Ney, que nos foi apresentado pela Luhli, cantora e compositora carioca que havia se tornado amiga nossa. 
DO - Nas gravações vocês já tinham idéia de que aquele se tornaria um disco clássico da música brasileira, presente em 10 de cada 10 listas de melhores discos nacionais de todos os tempos?
GC - Sabíamos que trilhávamos um caminho criativo de composições próprias. Isso nos dava uma condição diferenciada em relação aos grupos contemporâneos que normalmente apresentavam um trabalho "cover". Intuitivamente, posso afirmar que apostávamos nisso. 
DO - De cara vocês chamaram a atenção também pelos figurinos, maquiagens e apresentações performáticas. Inclusive a capa do disco (com as cabeças dos integrantes maquiadas sendo servidas em bandejas em cima de uma mesa) já foi considerada como a melhor capa de um disco nacional. Como se deu a idéia dessa "revolução visual" do grupo? 
GC - Não só é considerada a melhor capa de disco nacional como está entre as 50 melhores capas de discos de toda américa latina. A idéia e criação da capa é de autoria do fotógrafo Antonio Carlos Rodrigues. 

DO - O disco, além dos integrantes originais, teve a participação de músicos como Willy Verdaguer, Zé Rodrix e John Flavin. Como se deu o contato com esses músicos? Vocês já se conheciam?

GC - Willy Verdaguer, Marcelo Frias, John Flavin, Emilio Carrera e Sergio Rosadas integravam a banda que nos acompanhava. Nós os conhecemos logo após nossa primeira apresentação no espaço Casa de Badalação e Tédio.  Zé Rodrix  teve uma participação como arranjador e músico convidado, na canção "Fala", porque havia se tornado um amigo.

DO - O disco atingiu todos os públicos: crianças, intelectuais, hippies, engajados. Vendeu mais de 1 milhão de cópias. Havia acontecido algo parecido antes?

GC - Atingimos um público de A a Z ou, dos 8 aos 80. Fomos um divisor de águas para a industria fonográfica da época. Ganhava-se disco de ouro com a marca de 50.000 cópias por ano naqueles tempos. Os Secos & Molhados surpreenderam o mercado atingindo mais de 350 mil cópias vendidas no chamado período de lançamento do LP, ou disco. Logo, não havia nada parecido antes.

DO - E como foram os históricos shows no Maracanãzinho, com 30 mil pessoas presentes - além das outras milhares do lado de fora?

GC - O Maracanãzinho foi um marco na trajetória do grupo. Foi a primeira vez no país que um só grupo lotou um ginásio daquele tamanho. Relatos de números de público assim só haviam acontecido em festivais de música daqui. Mas o grupo já vinha dando sinais de grande concentração de público em algumas cidades brasileiras. Em Belo Horizonte e Brasília, por exemplo, já havíamos levado um público entre dez e quinze mil pessoas antes do referido e histórico show.

DO - Qual era a relação do Secos & Molhados e a ditadura, na época do lançamento do disco?

GC- (risos) De repressão e repreensão, naturalmente. Não era diferente para os S&Ms. Vivíamos uma ditadura ferrenha nesses tempos e a censura nos vigiava de perto.

DO - Nesse álbum nota-se a presença de influências de diversos estilos musicais como MPB, psicodelismo, baião, blues, glam rock, música portuguesa. Essas influências foram assimiladas naturalmente ou existia uma proposta inicial dessa fusão? Vocês tiveram alguma influência da Tropicália?

GC - A proposta do grupo era eclética em sua essência. Éramos abertos a todos os gêneros musicais. O que fizemos foi ousar.
 
 DO - Vocês também inovaram musicando poesias de Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, João Apolinário. Como surgiu essa idéia de relacionar música e literatura?
 
GC - Desde a formação do grupo, essa era a idéia: musicar grandes nomes da literatura, além das criações proprias. E assim fizemos.

DO - Uma das músicas que fizeram mais sucesso inclusive foi “Rosa de Hiroshima”, poesia de Vinícius de Moraes que você musicou. Era uma poesia que você já conhecia anteriormente ou você a veio conhecer especificamente para esse trabalho no disco? O que o próprio Vinícius achou quando ouviu sua poesia em forma de música?


GC - Conheci o poema quando tive a oportunidade de ler uma antologia poética sobre o poeta Vinícius de Moraes. Segundo o autor, o poema estava perdido em meio a essa antologia. Vinícius me agradeceu por ter, segundo ele, dado a "oportunidade de eternizar a obra ao musicá-la".


                                             Sangue Latino / O vira


                                            Rosa de Hiroshima


                                            Amor

                                            Fala  
  


Disco: Secos & Molhados
Artista: Secos & Molhados
Ano: 1973
Destaques: Todas as músicas.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Construção (Chico Buarque)





Por apenas essa música o álbum já merecia entrar em qualquer lista de discos obrigatórios brasileiros. Não foi por acaso que a faixa-título Construção foi eleita em uma seleção de críticos da revista Rolling Stone como a melhor música brasileira de todos os tempos. E ela é a mais complexa também. Daria pra debatê-la um dia inteiro e mesmo assim faltariam elementos para descrevê-la. Tanto na parte musical, com o ritmo frenético simulando uma construção e com os arranjos sinfônicos de Rogério Duprat criando um clima sonoro onde você parece entrar dentro da música, quanto na parte gramatical da letra, com todas as frases terminando em propararoxítonas trissílabas e alternando as palavras finais em cada estrofe, mudando a intensidade com que cada parte da música conta a história do trabalhador em questão. Além da musicalidade e da gramática da música ainda daria pra debater a questão ideológica da letra onde mostra um cidadão como parte de uma engrenagem onde as pessoas são tratadas como número, como diz claramente o trecho “... morreu na contramão atrapalhando o tráfego...”.

Mas o disco não era apenas a música Construção. Vindo de um exílio na Itália Chico Buarque mostrou nesse disco que não voltou para ser mais um a se conformar com a situação crítica que o Brasil vivia naquele momento de ditadura. Com a política do “Ame ou deixe-o” a repressão, principalmente com a classe artística, era intensa. Mesmo assim Chico abre seu disco com Deus lhe Pague onde cantava “... por me deixar respirar ... por me deixar existir ... Deus lhe pague...”. Ainda havia Samba de Orly, parceria com Toquinho e Vinícius de Moraes, onde falava sobre o exílio, faixa essa que foi parcialmente censurada.

O disco continha também a música Cotidiano, que fez muito sucesso nas rádios, e uma regravação da música Gesubambino do italiano Lúcio Dalla, que na versão de Chico virou Minha História. Havia ainda as belas parcerias com Vinícius de Moraes em Desalento e Valsinha.  E o piano do Tom Jobim em Olha Maria.

O álbum Construção também foi incluído no livro americano “1001 discos para ouvir antes de morrer” de Robert Dimery, com discos recomendados por alguns dos maiores críticos mundiais. Com certeza, um disco obrigatório.


                                                                        Construção
                                                                           Cotidiano

                                                                      Samba de Orly


Disco: Construção
Artista: Chico Buarque
Ano: 1971
Destaques: Construção, Deus lhe pague, Cotidiano, Samba de Orly, Valsinha, Olha Maria.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cartola (1974 e 1976)


    

Se você que é compositor, músico, intérprete, que ainda não é reconhecido, já passou dos 30 e acha que é melhor desistir da música porque que está velho demais, não se desespere. Um dos maiores compositores da história do país foi gravar seu primeiro disco aos 66 anos. Mas valeu a pena esperar. O primeiro (1974) e o segundo disco (1976) de Cartola estão entre os maiores clássicos da música brasileira.

Eles são a prova de que uma pessoa mesmo sendo de origem simples, sem estudo, também é capaz de escrever as letras mais lindas e cantar as músicas mais belas. É impressionante a poesia na música de Cartola. E o instrumental também é maravilhoso, afinal ele estava acompanhado pela nata do samba na gravação dos seus primeiros discos.

Ele começou cedo no samba. Na década de 20 se mudou para a mangueira sendo inclusive um dos fundadores, em 1928, da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Conheceu e fez parcerias com sambistas ilustres como Carlos Cachaça e Noel Rosa. Na década seguinte foi gravado pelos maiores artistas da época como Mário Reis, Francisco Alves e Carmem Miranda. Era reconhecido até pelo Maestro Heitor Villa-Lobos, que em 1940 o convidou para fazer algumas gravações em um projeto de música popular.

Os anos seguintes foram difíceis para Cartola. Com problemas de saúde (ele contraiu meningite) e financeiros, ele sumiu por uns anos do circuito de amigos. Alguns acharam até que ele tinha morrido. Foi lavando carros que, em 1957, o jornalista Sérgio Porto (que assinava como Stanislaw Ponte Preta) o reconheceu e o ajudou a retomar sua carreira musical.

No início da década de 60 Cartola junto com Dona Zica (sua esposa) abriu o bar Zicartola, importantíssimo para a música brasileira, pois nesse bar se encontrava o pessoal da antiga geração do samba como Nelson Cavaquinho e Zé Keti, com a da nova geração daquela época como Paulinho da Viola e Elton Medeiros, além do povo da Bossa Nova, como Nara Leão.

Na década seguinte viria a consagração. Através do produtor e pesquisador musical Marcus Pereira, Cartola, em 1974, grava seu primeiro disco. Ali estão clássicos como O sol nascerá, Alvorada, Quem me vê sorrindo. No seu segundo disco, de 1976, mais uma seqüência formidável de musicas que entrariam para a história da música brasileira. O Mundo é um moinho, As rosas não falam, Cordas de Aço, além da maravilhosa gravação de Preciso me encontrar, de Candeia. Valeu a pena esperar.


                                                                 O Mundo é um moinho
                                                                   
                                                                  As Rosas não falam
 
                                                                          Alvorada
  
                                                                     O Sol nascerá

Disco: Cartola
Artista: Cartola
Ano: 1974
Destaques: O sol nascerá, Alvorada, Quem me vê sorrindo.

Disco: Cartola
Artista: Cartola
Ano: 1976
Destaques: O mundo é um moinho, As rosas não falam, Cordas de aço, Preciso me encontrar.
Indicação: Documentário Cartola - Música para os olhos, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, de 2006.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Racional – Volume I e Volume II ( Tim Maia )

    

No início dos anos 70 era um sucesso atrás do outro. Depois de passar alguns anos nos Estados Unidos, Tim Maia trouxe para a música brasileira a soul music que havia conhecido nesse período no exterior. Em seu primeiro disco (1970) estourou com Azul da cor do Mar, Coronel Antônio Bento e Primavera. Os discos seguintes trouxeram mais sucessos. Não quero dinheiro (Só quero amar), Gostava tanto de você, Réu confesso. Quando ele apareceu em 1975 com um disco inteiro falando sobre um livro chamado Universo em Desencanto, que pregava uma seita chamada Cultura Racional, relacionada a contatos com seres extraterrestres, liderada pelo grão mestre varonil Manoel, a gravadora (Philips) recusou a lançá-lo.

Isso não o impediu de lançar o disco. Tim Maia criou seu próprio selo, o Seroma (abreviação do seu nome Sebastião Rodrigues Maia) e entrou de cabeça na divulgação da seita. Todas as letras falavam sobre ela. Mas as letras pouco importavam. O instrumental, que era absurdo, sim. Funk e soul de primeira, como nunca se havia escutado antes no Brasil. A voz (por causa da seita Tim havia parado com as drogas) estava impecável. A divulgação do disco foi difícil, a distribuição mais ainda. Os shows praticamente eram freqüentados apenas pelo pessoal da Cultura Racional, que iam de caravanas.

Nessa fase “racional” Tim lançou dois discos. Tim Maia Racional Volume I (1975) e Racional Volume II (1976). Após não ter conseguido ver disco voador nenhum e ter se desentendido com o grão mestre varonil Manuel, Tim larga a seita alegando que era tudo um trambique. Por causa disso renega os discos e os tira de circulação. O resultado é que os discos se tornaram raríssimos, sendo procurados até hoje por colecionadores do mundo inteiro. Algumas versões piratas vendidas posteriormente do Racional Volume I incluíram as músicas Ela Partiu e Meus Inimigos, que saíram originalmente em single (1977).
             
Massacrado pela crítica na época do seu lançamento hoje os discos Racionais Vol. I e Vol. II são considerados clássicos, tendo músicas como Imunização Racional, Bom Senso, Rational Culture, Queira ou Não Queira, O Caminho do Bem, entre outras sendo regravadas, tendo suas bases sendo usadas como samplers, ou animando festas e bailes do mais alto nível. 


                                                            Quer queira ou não queira




                                                                     Rational Culture
 

                                                                 Imunização Racional 



                                                                  O Caminho do Bem



Disco: Racional Volume I
Artista: Tim Maia
Ano: 1975
Destaques: Imunização Racional, Bom Senso, Rational Culture

Disco: Racional Volume II
Artista: Tim Maia
Ano: 1976
Destaques: Queira ou Não Queira, O Caminho do Bem, Guiné Bissau Moçambique e Angola